De acordo com a análise mais recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o impacto da pandemia da COVID-19 no mercado de trabalho foi mais severo do que o previsto e a recuperação é incerta.
Os dados da 5.ª edição da monitorização da OIT sobre a COVID-19 e o mundo do trabalho, para o segundo trimestre deste ano, refletem uma queda de 14% nas horas trabalhadas, equivalente à perda de 400 milhões empregos a tempo completo. Este valor representa um aumento muito acentuado relativamente às previsões anteriores, que apontavam para uma queda de 10,7%, equivalente a 305 milhões de empregos. O agravamento da situação encontra-se em várias regiões, sobretudo nas economias em desenvolvimento. A situação mais grave encontra-se nas Américas, com quebras superiores a 18%, mas todas as outras (Europa e Ásia Central, Ásia e Pacífico, Estados Árabes e África) registam perdas acima dos 12%.
Segundo semestre de 2020
A OIT apresenta neste relatório três cenários de recuperação, mas sublinha que os resultados a longo prazo dependem da trajetória futura da pandemia e das opções e políticas governamentais:
- o cenário base – que pressupõe uma recuperação da atividade económica de acordo com as previsões atuais, o levantamento das restrições no local de trabalho e uma recuperação do consumo e do investimento de referência – projeta uma redução de 4,9% nas horas de trabalho em relação ao último trimestre do ano passado, o que equivale à perda de 140 milhões de empregos a tempo completo;
- o cenário pessimista – prevê uma segunda vaga da pandemia e o regresso de restrições que retardariam significativamente a recuperação com uma consequente redução de 11,9% das horas de trabalho (equivalente a 340 milhões de empregos a tempo inteiro);
- o cenário otimista – pressupõe que os trabalhadores regressarão rapidamente ao trabalho, o que irá impulsionar significativamente a procura agregada e a criação de emprego. Com esta recuperação excecionalmente rápida, a perda global de horas de trabalho seria reduzida para 1,2 por cento (34 milhões de empregos a tempo inteiro).
Impacto nas mulheres
O relatório também refere que as trabalhadoras foram particularmente afetadas pela pandemia, o que cria o risco de inverter alguns dos modestos progressos feitos nas últimas décadas em termos de igualdade de género, e de agravar as desigualdades de género. 510 milhões de mulheres, ou seja 40% de toda a mão-de-obra feminina, trabalha nos setores mais afetados pela pandemia e crise que se lhe seguiu: alojamento, restauração, comércio e produção. Além disso, ainda dominam no trabalho doméstico, assistência social e saúde, onde correm o risco de perder o seu rendimento ou de infeção e transmissão da doença. E em muitos casos, com pouca ou nenhuma proteção social.
Principais desafios definidos pela Organização Internacional do Trabalho
Embora os países tenham adotado medidas políticas com rapidez e alcance sem precedentes, este relatório destaca alguns dos principais desafios daqui para a frente:
- Encontrar o justo equilíbrio e a sequência adequada entre as intervenções da saúde e económicas e entre as intervenções sociais e políticas para produzir resultados ideais e sustentáveis no mercado de trabalho;
- Implementar e sustentar intervenções políticas à escala necessária quando existe o risco de os recursos virem a ser cada vez mais limitados;
- Proteger e promover as condições adequadas tendo em vista os grupos mais vulneráveis, para tornar os mercados de trabalho mais justos e mais equitativos;
- Garantir a solidariedade e o apoio internacional, especialmente para os países emergentes e em desenvolvimento;
- Reforçar o diálogo social e o respeito pelos direitos.
O Diretor-Geral da OIT, Guy Ryder, frisou que as decisões políticas que forem tomadas agora “terão eco nos próximos anos e para além de 2030. Embora os países estejam em diferentes estágios da pandemia e já muito tenha sido feito, é preciso redobrar os esforços, se quisermos sair desta crise em melhor forma do que quando ela começou”.
A partir de hoje, a OIT vai dar início a uma Cimeira Mundial sobre a COVID-19 e o Mundo do Trabalho, Guy Ryder espera que os governos, trabalhadores e empregadores aproveitem a oportunidade para “apresentar e ouvir ideias inovadoras, debater sobre as lições aprendidas e apresentar planos concretos para, juntos, trabalharem para uma recuperação rica na criação de empregos, inclusiva, equitativa e sustentável”.
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Fonte: OIT